terça-feira, 14 de agosto de 2012


Intervenção na Síria: as perigosas consequências globais

Sami Ramadani (entrevista ao The Real News Network, TRNN, traduzida)
Sami Ramadani é conferencista de Sociologia da London Metropolitan University

PAUL JAY (Jay), EDITOR CHEFE, TRNN: Bem-vindos à The Real News Network. Sou Paul Jay, falando de Baltimore.

Continuamos aqui nossa série de entrevistas, para entender melhor as forças em disputa na Síria. Hoje, recebemos Sami Ramadani, professor Livre Docente de Sociologia da London Metropolitan University. Ramadani foi refugiado político do regime de Saddam, no Iraque. Hoje, fala conosco, de Londres. Obrigado por nos receber, Sami.

SAMI RAMADANI: Você é muito bem-vindo.

JAY: Os telespectadores que não assistiram às primeiras entrevistas, assistam, porque aqui prosseguimos na discussão. Por que a Rússia está tão empenhada em defender a Síria, mesmo sabendo que defender a Síria implica confrontar-se diretamente com os EUA?

RAMADANI: Há várias questões que envolvem a Rússia. Acho que, depois da Líbia, os russos acordaram para o fato de que só restava a Síria, em todo o mundo árabe, com ligações importantes com a Rússia. Rússia e Síria têm ligações importantes há décadas. Os russos armam o exército sírio, no confronto com Israel, há cerca de 50 anos. Têm uma base militar em Tartus: a única base militar russa no Mediterrâneo. Sim, é uma base pequena, nada que se compare ao que os EUA têm na região, mas é uma base na qual os navios russos podem, no mínimo, ser reabastecidos. É uma presença russa importante, no Mediterrâneo.

Além disso, os russos entendem o jogo regional exatamente como os norte-americanos o entendem: se a Síria cair, o alvo seguinte será o Irã. E o Irã, obviamente, está à porta da Rússia, os dois países têm fronteiras comuns; e o Irá é aliado estratégico muito importante para a Rússia, em termos da geopolítica mundial, não só regional. Quero dizer: combine Síria e Irã, e é fácil ver que a Rússia sente-se diretamente ameaçada.

JAY: Até que ponto a Rússia levará tudo isso? Quero dizer: se os países ocidentais, particularmente esses dos quais temos falado, Turquia, Arábia Saudita, Qatar, EUA e alguns europeus pularem nesse barco, quero dizer, se decidirem intervir mesmo sem resolução da ONU, — e não sei se o farão, mas talvez... — até que ponto irá a Rússia, no sentido de... continuarão a apoiar a Sírria em conflito armado direto contra o ocidente? E a que isso levará?

RAMADANI: Bem... Sou pessimista. Entendo que em cinco, dez anos, essa coisa toda pode levar a uma guerra mundial, porque, se o Irã for atacado nessa conflagração, nada garante que a Rússia, ou, quem sabe, a China, não intervirão? Infelizmente, Paul, estamos falando de um mundo extremamente perigoso.

Uma das razões pelas quais digo isso é que nós estamos também numa crise mundial da economia capitalista. A economia capitalista mundial, inclusive a economia dos EUA, está em crise profunda. E se se estuda a história, sempre aconteceu: crises econômicas profundas sempre levam a guerra. É tendência quase espontânea. Não exige longo planejamento, porque o complexo industrial militar é massivo. É provavelmente o segmento mais importante da economia, e tem considerável peso político. E se guerra significa que o complexo militar industrial ficará mais satisfeito, a guerra é inevitável. Sinto que nessa muito perigosa linha de contato em que se aproximam Síria, Líbano, Irã, Iraque, sempre se fala de um enorme potencial de conflito.
JAY: Seu argumento não é só de que a intervenção estrangeira interferirá na natureza do conflito na Síria e será desastre para o povo sírio, mas também, como você escreveu num de seus artigos, será um desastre para todo o planeta.

RAMADANI: É exatamente o que penso, por causa dos problemas regionais circundantes e a situação econômica mundial, e o fato de que a Rússia está recobrando parte do poder militar que perdeu. A situação econômica melhorou, na Rússia, nos últimos dez anos. Isso, porque, depois do colapso da União Soviética, a Rússia passou por período de desestabilização, nos anos 60s e 70s, muito pobre, economicamente. E já recuperou, pelo menos em parte, o que perdeu.

A China, sim avançou muito, economicamente e militarmente. Não acho que estejam em posição que obrigue esses dois países a aceitar um mundo totalmente monopolar, com os EUA na posição dominantes, nem, sequer, a OTAN.

Estamos falando também de outros países emergentes, e eles podem pular no barco com China e Rússia. Não sei da Índia, que ainda está oscilante. Será que os indianos se sentirão ameaçados nessa marcha rumo à guerra? Ou jogarão seu peso com a OTAN e, talvez, ganhem o Paquistão, como recompensa, e o fim da disputa pela Cachemira? Todos esses problemas são interconectados.

JAY: Por isso mesmo, eu disse, na entrevista anterior, que as coisas estão semelhantes, em vários sentidos, ao mundo de antes da I Guerra Mundial, embora, se se considera a depressão, já parecem mais, também, com o período imediatamente antes da II Guerra Mundial. Mas, seja como for, é situação extremamente perigosa. Voltemos à Síria. Prossiga, por favor.

RAMADANI: Só há mais um ponto a acrescentar, Paul. Uma das razões pelas quais a Rúsia está-se tornando cada dia mais intransigente na questão da Síria, também como já escrevi, ao analisar a oposição síria, é a oposição democrática, cada vez mais intimamente ligada à Arábia Saudita e aos EUA. Se esses laços não fossem tão estreitos, a Rússia não teria de envolver-se tão profundamente, porque a Rússia não é aliada diretamente de Assad. A Rússia tem interesses na Síria, ou, pode-se dizer, numa Síria que não seja aliada absoluta dos EUA e da Arábia Saudita. A Rússia pode tolerar uma mudança de regime, mas não pode tolerar mudança de regime que resulte na tomada do poder por grupos armados por sauditas, quataris, turcos e norte-americanos.

JAY: OK. Nesse caso, como se sai disso tudo? Sei que nada do que se diga nessa entrevista mudará o mundo. Mas em termos do destino do que você chama de forças mais democráticas dentro da Síria... O que querem esses grupos? O que querem hoje? E o que é possível?

RAMADANI: Pelo que tenho lido deles, todos estão deprimidos. Mas não mudaram de linha. E que outra linha haveria para eles? Afinal, estão oferecendo respostas às demandas do povo sírio. Querem democracia. Querem melhores condições de vida. Mas, de fato, também já estão dizendo: Calma... Se esse conflito armado continuar, a própria Síria estará sendo ameaçada, a sociedade síria não resistirá a esse tipo de ataque, teremos aqui situação semelhante à do Iraque, talvez ainda pior. De fato... que mais poderiam dizer?

JAY: É, é o que também tenho ouvido dos sírios com quem converso, amigos – e são pessoas que não, de modo algum, foram ou são favoráveis à intervenção: são pessoas que não são favoráveis ao ocidente, desse modo. O que querem é uma Síria independente, país soberano. São simpáticos ao que você chamou de oposição democrática. São contra a militarização da oposição. Mas dizem que a única saída, agora, é que a família Assad deixe o governo – pelo menos, o próprio Assad. Que essa seria condição indispensável para iniciar negociações, porque enquanto Assad permanecer no poder, prosseguirá a militarização do regime e das disputas. Dizem também... As forças pró-militarização talvez não pensem assim, mas a sociedade síria tem meios para fazer valer sua ideia de que, agora, a luta tem de parar. Depois de Assad deixar o governo, mais ou menos como aconteceu no Egito... Não pode haver mubarakismo sem Mubarak. De qualquer modo, a situação não é semelhante à no Egito. Que lhe parece? Você acha que os sírios melhor fariam se exigissem simultaneamente o fim da intervenção e o fim do governo de Assad?

RAMADANI: Minha opinião... Bem... O caso é que eu não acho que o problema seja Assad. Assad é um símbolo. O que está acontecendo é que, porque a oposição armada deseja o fim do governo de Assad, o povo e as elites em torno do regime não deixarão que Assad deixe o governo, mesmo que decida renunciar. O que quero dizer é que... Aquela elite síria e boa parte do povo sírio já sabe que a atual oposição armada não é a legítima oposição síria. Se fosse, seria possível negociar. Seria possível negociar com qualquer tipo de oposição democrática. Se houvesse oposição democrática, seria possível, até, negociar a partida de Assad.

JAY: Tenho conversado com jornalistas que estiveram lá, e, sim, viram apenas uma mínima parte do que está acontecendo, mas falaram com membros da oposição, inclusive com grupos envolvidos na luta armada, e dizem que muitos combatentes não são islamistashardcore e que não é só o Exército Sírio Livre associado aos sauditas, que há muitos combatentes, locais, de lá mesmo, que lutam legitimamente pelo fim da ditadura de Assad. Não se pode dizer que não sejam legitimamente sírios.

RAMADANI: Não, não. Você tem toda a razão. Não se discute. Falei da principal força militar, do pessoal que está recebendo os rifles com visão noturna e mira telescópica, do pessoal da OTAN, dos grupos que estão recebendo foguetes antitanques.

JAY: E há boatos hoje de que estão recebendo agora mísseis equivalentes aos Stingers. Parece que receberam 20, 30 mísseis capazes de derrubar helicópteros.

RAMADANI: Perfeitamente. Foi exatamente o que os EUA fizeram no Afeganistão, com osmujahideen contra as forças soviéticas, se você lembrar.

JAY: Porque é importante distinguir, porque nem todos os combatentes envolvidos na luta armada são essa gente de que você fala aqui.

RAMADANI: Minha opinião é que os que estão na ofensiva são, principalmente, os que recebem apoio de fora. Mas há combatentes que defendem sua família, e que estão em posição mais defensiva. E há as forças democráticas na Síria, cuja literatura andei lendo. Eles referem-se a esse ‘outro povo’. Eles falam muito dessas pessoas. Dizem que conhecem os que andam armados, e que estão armados para proteger as respectivas casas e vizinhança, ou a própria família. Esses, ahsolutamente, não empreendem ofensivas; não desencadeiam operações repentinas em Damasco ou Aleppo. É preciso demarcar esse tipo de diferença.

Essas forças, que estarão na ofensiva, tentando ocupar vizinhanças e cidades. Conseguiram ocupar Aleppo, porque está a poucas milhas da fronteira turca – muito próxima, e controlam as linhas de suprimento que vêm da Turquia. Criarão ali uma situação semelhante à que criaram em Benghazi na Líbia, de modo que o armamento mais pesado possa entrar na Síria e estejam armados para iniciar guerra frontal em território sírio. Mas essa agenda é agenda estrangeira.Não é agenda do povo sírio.

JAY: De fato, se houver intervenção armada, a força de intervenção mais provável será turca? Não vejo outra. Quero dizer, sim, os americanos, mas é difícil que, em ano eleitoral, Obama inicie mais uma guerra ali. Quero dizer... Talvez alguma coisa aérea. Mas, se a guerra acontecer no solo, terão de ser os turcos? Talvez os sauditas?

RAMADANI: Os turcos, sim, sem dúvida. Mas isso não significa que seja o exército turco. Há ali muitos árabes que falam turco. E há sírios que vivem na Turquia, há sauditas, qataris, líbios, os quais, por falar deles, chegaram às centenas à Turquia e já se infiltraram na Síria. Hoje, combatentes de todo o planeta estão sendo convocados para luta guerra jihad na Síria. Há também mercenários, como escreveu o conhecido jornalista egípcio Mohamed Hassanein Heikal, contratados pela empresa Blackwater. São 6 mil mercenários treinados nos Emirados, que falam árabe e que já entraram na Síria. Estamos, de fato, falando de ampla e complexa campanha de desestabilização.

Acho que os EUA estão em situação semelhante à do Iraque: se não conseguirem controlar a situação, melhor que o país seja destruído. Sei que é terrível dizer isso. Mas foi ideia de um político dos EUA, terrível, que sugeriu que, se você não consegue obter o controle, melhor que o local seja destruído. Horrível que seja, é o que acontecerá na Síria. Se não conseguirem impor lá um governo que agrade a eles, destruirão completamente a sociedade síria. É solução que também se encaixa bem na agenda israelense.

JAY: Seja como for, o que você acha que a sociedade internacional, gente de fora, deveria exigir agora?

RAMADANI: A primeira demanda teria de ser o fim dos combates. Que o regime sírio retire os soldados. A oposição armada teria de parar de lutar, abrir espaço para um cessar-fogo. Mas o movimento teria de vir também da Arábia Saudita, Qatar e Turquia e EUA, que não querem o fim dos combates.

JAY: Tenho de concordar que o único modo de acontecer o fim dos combates seria se sauditas, qataris, turcos e norte-americanos cortassem o fluxo de armas que continuam a entrar na Síria. Mas nada, absolutamente nada, sugere que lhes interesse essa via de ação. Estão operando na direção absolutamente oposta a essa.

RAMADANI: Sim. Acho que se não cortarem o fluxo de armas e dinheiro, e se não acertarem algum legítimo cessar-fogo, haverá terrível guerra civil na Síria. E não só as minorias sofrerão – 40% da população da Síria é constituída de grupos étnicos e religiosos minoritários.

JAY: Mas meus amigos sírios querem o contrário disso, querem maior pressão internacional para por fim ao governo de Assad e para que se crie espaço para negociações.

RAMADANI: Entendo que a posição de Assad ficará muito, muito precária, se a oposição armada depuser armas. Não haverá mais qualquer explicação para a permanência de Assad no poder. E as elites na Síria dirão... Ei! Aqui há uma janela! A oposição armada parou porque sauditas, qataris, turcos e norte-americanos cortaram o suprimento de armas; então, podemos retirar nossos tanques. E é hora de nos livrarmos de Assad.

Essa coisa é dinâmica e a dinâmica nesse momento é que a agenda externa não está dizendo apenas “derrubem Assad”; está dizendo também, além de “derrubem Assad”, que “aceitem um regime pró EUA, pró sauditas, em Damasco”. Se essa agenda não for alterada, o regime de Assad lutará até o último homem e as elites locais lutarão com ele e por ele. Nem as minorias farão oposição a Assad.

JAY: Entendido. Muito obrigado pela entrevista, Sami.

RAMADANI: Você é sempre bem-vindo.

Tradução: Vila Vudu


domingo, 12 de agosto de 2012

Intervenção empurra a Síria para o coração das trevas

Seumas Milne, Guardian, UK

O ocidente e os regimes do Golfo, que apoiam os ‘rebeldes’, não levam a Síria à liberdade; só levam a Síria ao confronto sectário e a mais guerra.
Afinal, a destruição da Síria está em pleno curso, à velocidade máxima. O que começou como levante popular há 17 meses, já é plena guerra civil, alimentada por potências regionais e globais, e que já ameaça espalhar-se por todo o Oriente Médio. A batalha pela antiga cidade de Aleppo prossegue, os dois lados cometem atrocidades, e aumenta o perigo de o conflito alastrar-se para além das fronteiras sírias.
A deserção do primeiro-ministro da Síria é a face mais recente de um golpe que conta com quantidades ilimitadas de dinheiro, mas absolutamente não há sinais de que o regime esteja sob risco de colapso iminente. E a prisão de 48 peregrinos iranianos – ou 48 Guardas Revolucionários disfarçados, conforme a fonte em que você mais acredite – e o crescente risco de a Turquia atacar as áreas curdas na Síria, além da torrente de combatentes jihadistas que chegam à Síria, são amostra do que está em jogo.
A escalada do conflito foi empurrada por forças ocidentais e regionais. A Síria evidentemente não é o Iraque, com centenas de milhares de soldados em campo; nem a Líbia, com ataque aéreo devastador. Mas o sempre crescente fornecimento de armas, de dinheiro e de apoio técnico, por EUA, Arábia Saudita, Qatar, Turquia e outros, nos últimos meses, mudou dramaticamente o destino dos ‘rebeldes’ e o número de mortos.
Até aqui, Barack Obama tem resistido às exigências dos falcões de direita e neoconservadores que clamam por ataque militar direto. Em vez de ataque direto, autorizou aumento nas operações clandestinas da CIA, à moda do que os EUA fizeram na Nicarágua, de apoio aos ‘rebeldes’ sírios.
Os EUA, que apoiaram o primeiro golpe na Síria, em 1949, há muito tempo financiam grupos de oposição. Mas, no início de 2012, Obama assinou ordem secreta autorizando ações clandestinas (além de apoio financeiro e diplomático também clandestino) à oposição armada. Significa, dentre outros movimentos, agentes da CIA em campo, assistência no campo das comunicações e nas ações de “comando e controle”, além de direcionamento de suprimento de armas e munição para grupos sírios, através da fronteira turca. Depois que Rússia e China bloquearam a última tentativa de os EUA obterem mandado da ONU para promoverem mudança forçada de regime na Síria mês passado, o governo dos EUA fez saber que ampliaria o apoio aos ‘rebeldes’ e que trabalharia em coordenação com Israel e Turquia, em planos de “transição” para a Síria.
“Vocês viram que, nos últimos meses, a oposição foi fortalecida” – disse um alto funcionário do governo Obama ao New York Times, 6ª-feira passada. “Agora, estamos prontos a acelerar esse processo”. Para não ficar de fora, William Hague vociferou que a Grã-Bretanha também estava ampliando o apoio “não letal” aos ‘rebeldes’. Os governos autocráticos da Arábia Saudita e do Qatar garantem dinheiro e armas, como confirmou essa semana o Conselho Nacional Sírio apoiado pelo ocidente; e a Turquia, membro da OTAN, montou uma base de logística e treinamento para o Exército Sírio Livre na, ou próximo da, base norte-americana de Incirlik.
Para os sírios que querem dignidade e democracia num país livre, a dependência de apoio externo, que cresce sem parar como erva daninha dentro de seu movimento original, é desastre absoluto – maior, até, que o desastre que desabou sobre a Líbia. Afinal, quem hoje decide quais grupos recebem dinheiro e armas é o regime ditatorial e sectário dos sauditas, não os próprios sírios. E são agentes da inteligência dos EUA e ditaduras regionais que apoiam a ocupação israelense de território sírio, quem decide quais grupos recebem armas.
Ativistas da oposição insistem em que preservarão a própria autonomia, baseados em apoio popular firmemente enraizado. Mas a dinâmica do apoio externo facilmente tornará dependentes os grupos locais, que cada vez precisarão mais dos instrumentos que os patrocinadores lhes prometem, do que dos grupos que dizem representar. O dinheiro do Golfo já aprofundou tragicamente o sectarismo religioso no campo ‘rebelde’, e notícias de confrontos entre os grupos armados em Aleppo essa semana comprovam o alto risco de os grupos armados dependerem mais de forças externas do que de suas respectivas comunidades.
O regime sírio é, claro, apoiado por Irã e Rússia, e assim foi durante décadas. Mas melhor analogia para o envolvimento do ocidente e do Golfo na insurreição síria seria, por exemplo, haver iranianos e russos patrocinando uma revolta armada, digamos, na Arábia Saudita. Para a mídia ocidental, que insistiu em noticiar o levante sírio como se fosse combate unidimensional por liberdade, a evidência já inescapável de ‘rebeldes’ que torturam e executam prisioneiros – além dos sequestros ao estilo al-Qaeda, que mais uma vez descobrem-se aliados dos EUA – parece ter sido um choque.
Na realidade, a crise síria sempre teve múltiplas dimensões que cruzavam as linhas de divisão mais sensíveis da região. No nascedouro foi levante genuíno contra regime autoritário. Mas muito rapidamente metamorfoseou-se e converteu-se em conflito sectário, no qual o governo de Assad, no qual predominam os alawitas, pôde apresentar-se como protetor das minorias – alawitas, cristãos e curdos – contra uma maré de oposição dominada por sunitas.
A intervenção da Arábia Saudita e de outras autocracias do Golfo, que tentavam se autoproteger contra o levante árabe mais amplo, jogando o trunfo do antixiismo, visa, muito visivelmente, a um resultado sectário, não democrático. Mas há a terceira dimensão – a aliança entre Síria, Teerã e o movimento da resistência dos xiitas do Hezbollah libanês, e essa dimensão converteu a luta na Síria em guerra por procuração contra o Irã e em conflito global.
Muitos na oposição síria poderão argumentar que não lhes restou alternativa senão aceitar o apoio estrangeiro, se quisessem defender-se da brutalidade do regime. Mas, como diz o líder da oposição independente Haytham Manna, a militarização do levante enfraqueceu sua base popular e democrática original – ao mesmo tempo em que aumentou dramaticamente o número de mortos.
Hoje, é alta a probabilidade de que a guerra espalhe-se para fora da Síria. A Turquia, com grande população de alawitas, além de uma minoria curda que enfrenta longos anos de repressão, reclamou para si o direito de intervir contra os rebeldes curdos na Síria, depois que Damasco retirou seus soldados das cidades curdas. Confrontos disparados pela guerra síria intensificaram-se no Líbano. Se a Síria for fragmentada, todo o sistema de estados e fronteiras do oriente pós-otomano virá também abaixo.
É o que pode acontecer agora, independente de por quanto tempo sobreviva o regime de Assad. Mas a intervenção na Síria está prolongando o conflito, em vez de apressar qualquer solução durável.
Só um acordo negociado, que o ocidente e seus amigos tão encarniçadamente bloquearam, pode agora dar aos sírios a chance de decidir sobre o próprio futuro – e impedir que o país mergulhe no coração das trevas.

Tradução: Vila Vudu

sábado, 11 de agosto de 2012

Hillary Clinto visita a Turquia para conspirar contra a Síria

A secretária de Estado americana, Hillary Clinton visitou a Turquia para manifestaram o seu temor de que a Síria se torne um santuário para "terroristas do PKK ou da Al-Qaeda". Ela afirma que existem "ligações entre o Hezbollah, o Irã e a Síria para prolongar o regime de Damasco".
Após um encontro com o ministro das Relações Exteriores turco, Ahmet Davutoglu, Hillary também se comprometeu a "acelerar o fim do banho de sangue e do regime Assad" na Síria, durante uma entrevista coletiva à imprensa em Istambul. A afirmação é totalmente hipócrita porque é justamente o governo norte-americano o maior financiador dos mercenários estrangeiros que promovem banhos de sangue na Síria para mudar a geopolítica regional, favorecendo os EUA e Israel, e enfraquecendo a influência e presenças da Rússia e China.
"A Síria não deve se tornar um santuário para os terroristas do PKK", disse ela, referindo-se ao movimento armado curdo que combate o governo da Turquia, aliado de Washington. A estratégia norte-americana é cooptar a Turquia em suas conspirações e ações terroristas contra a Síria, através do oferecimento de apoio à luta contra o PKK, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão, que não aceita o apoio e proteção do governo turco aos mercenários estrangeiros que utilizam as fronteiras com a Turquia para atacar o território sírio.
A chefe da diplomacia americana também justificou as sanções contra o partido político xiita libanês Hezbollah decididas na véspera por Washington.
"Seguimos aumentando a pressão externa. Anunciamos ontem em Washington sanções destinadas a expor e a romper os vínculos entre Irã, Hezbollah e Síria, que prolongam a vida do regime de Assad", declarou Hillary.
A secretária de Estado afirmou ter abordado planos operacionais com a parte turca com o objetivo de acelerar o fim da guerra na Síria, entre elas a decisão do governo britânico de enviar dinheiro aos mercenários estrangeiros que promovem ataques terroristas na Síria.
O ministro Davutoglu, cujo país combate o PKK desde 1984, considerou que "não há lugar para um vazio de poder na Síria" que possa beneficiar os rebeldes do PKK, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão, e destacou que a transição na Síria deve se desenvolver no prazo mais breve possível.
O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, acusou recentemente o regime de Damasco, com o qual Ancara rompeu, de ter deixado várias áreas do norte da Síria com o PKK e alertou que a Turquia poderá exercer o seu direito de perseguir os rebeldes além de suas fronteiras. Na verdade, a Turquia vem apoiando os mercenários estrangeiros, tentando recuperar a influência que tinha na região durante o Império Otomano.

Irã inaugura agência de notícias dos Não-Alinhados

O Irã apresentou nesta quarta-feira oficialmente a agência internacional de notícias do Movimento dos Países Não-Alinhados (MNOAL), enquanto avançam em Teerã os preparativos para realizar a 16ª cúpula da organização, em fins de agosto.O vice-chefe de Comunicações e Relações Públicas da conferência cúpula do movimento, Mohammad Sheikhan, liderou a cerimônia realizada no escritório presidencial e destacou o objetivo de que o novo meio seja o "mensageiro da paz e da justiça no mundo".
Sheikhan destacou o papel que os meios de comunicação em massa desempenham no mundo moderno e expressou confiança de que a agência sirva para contrabalançar a hegemonia das grandes corporações.Em relação ao tema, o vice-chefe deplorou que numerosas empreas econômicas, sistemas hegemônicos e potências mundiais procurem manter sob jugo seus meios "para impor suas ideias e pensamentos corporativistas à comunidade internacional".
"Em contraste, surgiram certos meios de comunicação graças ao despertar das nações ansiosas pela prosperidade e aperfeiçoamento da sociedade humana", afirmou.Sheikhan também manifestou a esperança de que a recém criada agência contribua para preparar o terreno para um "movimento informativo" e para a promover o lema da 14ª Conferência Cúpula de chefes de Estado e de Governo do Movimento.
Sob o título "Paz sustentável sobre a base de um gerenciamento global conjunto", a conferência será aberta em Teerã em 26 de agosto, para especialistas, e será concluída no dia 31 do mesmo mês, após encerrar as reuniões dos ministros de Relações Exteriores e chefes de Estado.
Com quase a totalidade dos convites entregues aos chefes de Estado, um dos últimos ao presidente do Iraque, Jalal Talabani, o Irã acredita que a reunião trianual reforçará seu posicionamento a nível internacional e a solidariedade entre os 118 Estados que participam do MNOAL.Os organizadores da conferência lembram que o objetivo do fóro dos países do terceiro mundo, como indicou a declaração de Havana durante a 6ª Cúpula em 1979, é assegurar "a independência nacional, a integridade territorial e a segurança dos países não alinhados".A República Islâmica receberá a presidência dos Não Alinhados das mãos do Egito, tornando o recém eleito presidente Mohamed Morsi, um islamista moderado, em um dos visitantes mais aguardados da reunião.

Fonte: Prensa Latina


Una guerra en Siria favorecería recolonización de Oriente Medio"

La Organización del Tratado del Atlántico Norte (OTAN) está tratando de buscar un pretexto para suscitar una guerra en Siria, a fin de reavivar el dominio de las antiguas potencia coloniales en Oriente Medio, según declaró un analista político.
“Creo que la OTAN está esperando entre bastidores el momento adecuado, un pretexto y una excusa adecuados, y una justificación humanitaria adecuada, que es básicamente una cortina de humo detrás de la cual llevará a cabo sus viejas estrategias”, afirmó Ken Stone, miembro ejecutivo de la “Hamilton Coalition to Stop the War”, en una entrevista concedida con Press TV.
“Estas viejas potencias coloniales, entre ellas Gran Bretaña, Francia, Italia y Estados Unidos, buscan recolonizar Oriente Medio y Asia Central”, advirtió.
El experto en política también se refirió a los esfuerzos del régimen de Israel por agravar la situación en Siria y advirtió de que un cambio de gobierno en el país árabe podría significar que el nuevo ya no apoye al Movimiento de Resistencia Islámica de El Líbano (Hezbolá) y a la resistencia de Palestina, además de que podría permitir que el régimen de Tel Aviv se establezca y anexe de forma permanente los Altos del Golán.
Estas declaraciones de Ken Stone se producen en un momento en el que continúan los enfrentamientos entre el Ejército sirio y los grupos armados terroristas.
Siria sufre la injerencia de algunos países occidentales y regionales, entre ellos Arabia Saudí y Catar, que a través del territorio turco han dotado a los grupos terroristas de armamento avanzado. El propósito de este flujo de armas es intensificar los ataques terroristas contra el Gobierno de Damasco.
En un reciente acto de injerencia extranjera, el Ejército jordano bombardeó el viernes dos puestos fronterizos sirios en el área Tel Shihab-Turra, a 80 kilómetros al norte de Amán, capital jordana. Asimismo, Francia ha desplegado soldados en la frontera de Siria con Jordania, so pretexto de que la medida tiene como objetivo “ayudar a los refugiados” en la región fronteriza.

sg/aa/